domingo, 11 de abril de 2010

Texto "Salto para o Futuro"

Caros alunos, o texto abaixo foi extraído do site http://www.tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo/
Este texto será a referência para a primeira atividade da unidade II

PROPOSTA PEDAGÓGICA
CURRÍCULO, RELAÇÕES RACIAIS E CULTURA AFRO-BRASILEIRA
Simone Santos

A educação escolarizada no Brasil ainda está pautada numa tradição européia que valoriza a erudição, uma cultura livresca pouco condizente com a nossa realidade. O conteúdo programático da educação básica tem mantido uma visão monocultural e eurocêntrica, deixando de fora as muitas culturas existentes na sociedade brasileira, principalmente a cultura de tradição oral.
O ato de educar na escola oficial não tem atingido o objetivo de possibilitar às pessoas uma visão mais abrangente do mundo em que vivem, muito ao contrário, segue o modelo da “educação bancária”, em que são depositados conhecimentos um a um, que pouco contribuem para uma formação cidadã. Nesse modelo de educação, os conhecimentos adquiridos (leitura, cálculos, datas históricas) são considerados sempre como mais importantes que os conhecimentos sentidos (músicas, danças, histórias, contos, lendas e parlendas).
O currículo, como forma de organização do conhecimento escolar, tem em seu conteúdo a intencionalidade e, por isso, deve estar aberto às interações e à criatividade dos agentes e atores internos e externos ao ambiente escolar. Sendo o currículo uma organização/instituição que expressa os interesses do grupo que o escolheu, é preciso compreender, no processo de ensino-aprendizagem, assuntos que fomentem diálogos que tenham nexos com a realidade social do sujeito aprendiz. Na elaboração de propostas pedagógicas e currículos escolares, devemos considerar concepções inerentes aos grupos presentes na escola, identificando suas especificidades.
No que se refere ao currículo oculto, devem ser levadas em consideração as práticas cotidianas das pessoas que compõem a instituição – os professores, diretores e coordenadores pedagógicos – que trazem seus valores e atributos morais, atitudes estéticas e diferentes linguagens que refletem o mundo externo ao ambiente escolar, e que se concretizam dentro dele. Muitas vezes, essas práticas permitem a institucionalização do preconceito e da discriminação racial.
O movimento negro vem, ao longo dos anos, reivindicando revisão do currículo escolar nos diversos níveis de ensino formal. Essa reivindicação tornou-se lei e foi delineada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Raciais e para o Ensino da História e da Cultura Afro-brasileira e Africana. Entretanto está na lei, mas não está nos costumes. Construir uma prática pedagógica que destaque o negro como sujeito ativo na construção de nossa sociedade é um dos grandes desafios que se tem enfrentado.
É urgente, portanto, a tomada de consciência por parte desses profissionais sobre os valores socioculturais trazidos pelas/os educandas/os e instituir um currículo que seja capaz de recriar suas histórias, incorporando-as ao saber acadêmico e, dessa forma, interagir na formação de cidadãos conscientes e capazes de enfrentar as desigualdades, romper as armadilhas dos preconceitos, garantindo o espaço participativo e a conquista de direitos no combate às exclusões.
Alternativas e possibilidades:
1. Identificar preconceitos e estereótipos presentes na escola.
2. Revisão do sistema do ensino-aprendizagem, tais como: currículo, livros e materiais didáticos que apresentavam tendência à folclorização da cultura negra com a veiculação de teorias racistas.
3. Promoções de ações afirmativas garantindo o direito de acesso à educação, como também a permanência e o êxito das/os educandas/os de diferentes pertencimentos étnicos/raciais e níveis socioeconômicos.
4. Realização de debates, seminários temáticos sobre o preconceito e a discriminação racial presentes na sociedade brasileira. Manifestações e atos públicos de combate ao racismo, projetos educacionais que reconheçam e valorizem a cultura negra.
5. Ênfase no processo de resistência negra, promovendo a re-contagem da história em sua dimensão conflitiva, a história dos diversos quilombos espalhados pelo país e das revoltas organizadas pelos negros (Revolta dos Búzios, da Chibata, dos Malês).
6. Centralidade da cultura: a dança, a música, a religião, a arte, os ritos, as tradições, as festas do povo negro, peculiares da ancestralidade africana, devem estar incluídos nos currículos e programas escolares, pois garantem a identidade do educando.
7. Diferentes identidades: considerar as singularidades e as pluralidades existentes entre os diferentes sujeitos presentes no cotidiano escolar, compreendendo, na prática pedagógica, que todas as identidades se constroem e se manifestam ao longo do processo social e de formação humana.
8. Nas disciplinas do núcleo comum, como Língua Portuguesa e Geografia, pode-se fazer um trabalho interdisciplinar no estudo dos países que falam a Língua Portuguesa e sua localização geográfica. Por exemplo, podem ser lidos textos e poesias de autores negros, como Solano Trindade, Elisa Lucinda, Jonatas Conceição, Lindinalva Barbosa, entre tantos outros já consagrados.
9. Em Ciências: os estudos das ervas medicinais (conhecidas como sagradas nas comunidades de terreiro), as doenças que atingem a população negra podem ser o elemento de identidade. Em História e Matemática, pode estar inserido o olhar africano, de forma que se fale das origens, da hominização, das fontes escritas e da tradição oral, desconstruindo a idéia de África a-histórica e introduzir as invenções técnicas matemáticas africanas do paleolítico.
10. Podem ser feitas apresentações musicais e de dança afro-regional. Desenvolver trabalhos sobre a estética negra, a partir de desfile de trajes e penteados afros; promover conversas com pesquisadores, agentes culturais, oficineiros e profissionais ligados ao Movimento Negro; confeccionar livros de história, bonecas negras e adereços africanos; propor o reconhecimento do continente africano, por meio de vídeos, fotos, gravuras, histórias infantis e lendas africanas; pesquisar ascendências com as famílias; estudar os significados de palavras do vocabulário Yorubá, Banto, Jeje e Nagô, já incorporadas à Língua Portuguesa; fazer um mural com a exposição das histórias de personagens negros; fazer a produção musical de um texto coletivo; pesquisar sobre o herói nacional Zumbi dos Palmares; fazer a releitura da lenda do “Saci Pererê”; propor reflexões a partir de reportagens, relatos e telenovelas; organizar momentos de socialização cultural, por meio das diversas manifestações artísticas.
A série Currículo, relações raciais e cultura afro-brasileira na Educação Básica tem como proposta a incorporação de práticas pedagógicas mais próximas da realidade da comunidade escolar. Para tanto, subdivide-se em tópicos, a serem discutidos em cinco programas, tendo como debatedoras(es) especialistas e professoras(es) que atuam em sala de aula, objetivando criar possibilidades para o exercício do que determina a Lei n. 10.639/032 e estimular a construção de um projeto político-pedagógico como ferramenta teórica e metodológica que cumpra o papel social e a função educativa da escola, que é promover a transformação pessoal e a ampliação do cabedal de conhecimentos das(os) educandas(os).
Fonte:Currículo, relações raciais e cultura afro-brasileira.
Boletim 20
Outubro de 2006
Salto para o Futuro

2 comentários:

  1. O texto nos mostraa impôrtância de um curriculo bem organizadoe atualizado não somente no diaa dia, mas com as novas metas e planejamentos governamentais. O acréscimo da cultura Afro é de suma importãncia, já que a sua exclusão pode ser considerada como uma exclusão de uma valiosa cultura de nossa própria existência. O povo brasileiro é um povo descendente de várias etnias, como européia, negra, indigena. É hora da educação e de todos os meios começarem realmente a procurar uma interação e igualdade entre todas as etnias, que aqui se encontram.
    Temos que expurgar todo é qualquer tipo de racismo etnico, pois somos uma nação de etnias misturadas, onde cada um de nós se pesquisarmosa fundo sobre nossas parentelas descobriremos que somos descendentes, de todas elas ou de algumas delas.

    Cláudio Mendes

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  2. O currículo é uma ferramenta de extrema importância dentro de qualquer instituição escolar,por isso é necessário saber utilizá-lo de forma a minimizar todos os acontecimentos, muitas vezes negativos gerando dentro da sala de aula. O professor precisa está sempre atento e as implicações que surgirem durante as aulas .É de suma importância também o estudo da cultura afro-descedente como mencionado no texto, pois essa cultura está fortemente presente em nosso cotidiano através das tradições e manifestações culturais, onde a maioria das pessoas desconhecem muitas vezes sua própría cultura,por não ter tido a aoportunidade de estudá-la, só conhecendo a Européia que sempre esteve presente em nossa história como sendo a única cultura predominante.

    Kátia Carvalho

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