terça-feira, 20 de abril de 2010

Diversidade e Currículo

Trecho do caderno: Indagações Sobre Currículo: Diversidade e Currículo do MEC.

Postado por:

Celeni Fernandes,
Cláudio Mendes,
Kátia Carvalho,
Larissa Cândido e
Leneide Fonseca.



Que indagações a diversidade traz aos currículos?



E nas escolas, nos currículos e políticas educacionais, como a diversidade se faz presente? Será que os movimentos sociais conseguem indagar e incorporar mais a diversidade do que a própria escola e a política educacional?
Um bom exercício para perceber o caráter indagador da diversidade nos currículos seria analisar as propostas e documentos oficiais com os quais lidamos cotidianamente. Certamente, iremos notar que a questão da diversidade aparece, porém, não como um dos eixos centrais da orientação curricular, mas, sim, como um tema. E mais: muitas vezes, a diversidade aparece somente como um tema que transversaliza o currículo entendida como pluralidade cultural. A diversidade é vista e reduzida sob a ótica da cultura. É certo que a antropologia, hoje, não trabalha mais com a idéia da existência de uma só cultura. As culturas são diversas e variadas. A escola e seu currículo não demonstram dificuldade de assumir que temos múltiplas culturas. Essa situação possibilita o reconhecimento da cultura docente, do aluno e da comunidade, a presença da cultura escolar, mas não questiona o lugar que a diversidade de culturas ocupa na escola. Mais do que múltiplas, as culturas diferem entre si. E é possível que, em uma mesma escola, localizada em uma região específica, que atenda uma determinada comunidade, encontremos no interior da sala de aula alunos que portam diferentes culturas locais, as quais se articulam com as do bairro e região. Eles apresentam diferentes formas de ver e conceber o mundo, possuem valores diferenciados, pertencem a diferentes grupos étnico-raciais, diferem-se em gênero, idade e experiência de vida.
Por isso, mais do que uma multiplicidade de culturas, no que se refere ao seu número, variedade ou “pluralidade”, vivemos no contexto das diferentes culturas, marcadas por singularidades advindas dos processos históricos, políticos e também culturais por meio dos quais são construídas. Vivemos, portanto, no contexto da diversidade cultural e esta, sim, deve ser um elemento presente e indagador do currículo. A cultura não deve ser vista como um tema e nem como disciplina, mas como um eixo que orienta as experiências e práticas curriculares.
Podemos indagar como a diversidade é apresentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9394/96, entendida como a orientação legal para a construção das diretrizes curriculares nacionais dela advindas. No seu artigo 26, a LDB confere liberdade de organização aos sistemas de ensino, desde que eles se orientem a partir de um eixo central por ela colocado: os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base comum nacional que será complementada, em cada sistema de ensino e em cada escola, por uma parte diversificada. Esta última, segundo a lei, é exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.
Dez anos se passaram. Podemos dizer que houve avanço em relação à sensibilidade para com a diversidade incorporada – mesmo que de forma tímida – na Lei. Os movimentos sociais, a reflexão das ciências sociais, as políticas educacionais, os projetos das escolas expressam esse avanço com contornos e nuances diferentes. Esse movimento de mudança sugere a necessidade de aprofundar mais sobre a diversidade nos currículos.
Reconhecer não apenas a diversidade no seu aspecto regional e local, mas, sim, a sua presença enquanto construção histórica, cultural e social que marca a trajetória humana. Rever o nosso paradigma curricular. Ainda estamos presos à divisão núcleo comum e parte diversificada presente na lei 5692/71. O peso da rigidez dessa lei marcou profundamente a organização e a estrutura das escolas. É dela que herdamos, sobretudo, a forma fragmentada de como o conhecimento escolar e o currículo ainda são tratados e a persistente associação entre educação escolar e preparo para o mercado de trabalho.
Segundo Arroyo (2006, p.56), a visão reducionista dessa lei marcou as décadas de 1970 e 1980 como uma forma hegemônica de pensar e organizar o currículo e as escolas e ainda se faz presente e persistente na visão que muitas escolas têm do seu papel social e na visão que docentes e administradores têm de sua função profissional.
Nessa perspectiva curricular, a diversidade está presente na parte diversificada, a qual os educadores sabem que, hierarquicamente, por mais que possamos negar, ocupa um lugar menor do que o núcleo comum. E é neste último que encontramos os ditos conhecimentos historicamente acumulados recontextualizados como conhecimento escolar. Nessa concepção, as características regionais e locais, a cultura, os costumes, as artes, a corporeidade, a sexualidade são “partes que diversificam o currículo” e não “núcleos”. Elas podem até mesmo trazer uma certa diversificação, um novo brilho, mas não são consideradas como integrantes do eixo central. O lugar não hegemônico ocupado pelas questões sociais, culturais, regionais e políticas que compõem a “parte diversificada” dos currículos pode ser visto, ao mesmo tempo, como vulnerabilidade e liberdade. É nesta parte que, muitas vezes, os educadores e as educadoras conseguem ousar, realizar trabalhos mais próximos da comunidade, explorar o potencial criativo, artístico e estético dos alunos e alunas.
No entanto, mesmo que reconheçamos a importância desse fôlego dado à diversidade nos documentos oficiais, é importante destacar que ele não é suficiente, pois coloca essa discussão em um lugar provisório, transversal e, por vezes, marginal. Além disso, tende a reduzir a diversidade cultural à diversidade regional e não dialoga com os sujeitos, suas vivências e práticas.
A incorporação da diversidade no currículo deve ser entendida não como uma ilustração ou modismo. Antes, deve ser compreendida no campo político e tenso no qual as diferenças são produzidas, portanto, deve ser vista como um direito. Um direito garantido a todos e não somente àqueles que são considerados diferentes. Se a convivência com a diferença já é salutar para a reeducação do nosso olhar, dos nossos sentidos, da nossa visão de mundo, quanto mais o aprendizado do imperativo ético que esse processo nos traz. Conviver com a diferença (e com os diferentes) é construir relações que se pautem no respeito, na igualdade social, na igualdade de oportunidades e no exercício de uma prática e postura democráticas.




Referência Bibliográfica



GOMES, Nilma Lino. Indagações sobre currículo: Diversidade e Currículo. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO: Brasília 2007. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag4.pdf > Acesso em: 10 abr. 2010. 13h00’.

9 comentários:

  1. Assim como a diversidade cultural foi historicamente construída, ela também pode ser reconstruída para que haja respeito à diversidade, de forma que nas relações sociais, os homens possam trabalhar em colaboração e, consequentemente, efetivem os princípios democráticos. Isso faz com que essa diversidade proporcione a cada aluno conhecer melhor a cultura do outro, assim como todos os membros da sua comunidade. LÚCIA

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  2. O texto nos faz refletir da necessidade de garantir um currículo que atenda a diversidade existente nas escolas. À escola, enquanto transformadora fica a responsabilidade de refletir, detectar, modificar ações e construir um currículo que vise o atendimento efetivo da diversidade. Um currículo que envolva a diversidade consiste em não apenas reconhecer as diferenças, mas também em não classificar um grupo social como melhor ou pior do que outro. NILMA

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  3. GOSTEI MUITO DO TEXTO POIS NOS MOSTRA A DIVERCIDADE CULTURAL DO CURRICULO PARABENS....
    VALERIA

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  4. Usando a diversidade cultural, podemos explorar mais da criativadade do aluno. E para isso a cultura não precisa ser colocada como uma disciplina basta o educador saber e querer usar as experiências de cada um para enriquecer não somente seu trabalho como também do aluno.
    Renata Alexandre

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  5. O texto nos mostra a amplitude e importância do currículo no cotidiano escolar. Trazendo, inclusive, instrumentos legais para a sua aplicação. Vocês são 10. Anderson

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  6. Adorei o texto que escolheram,obrigada por ajudar na minha formação.valeu Janete

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  7. PARABÉNS , INTERESSANTE O TEXTO UTILIZADO POR VOCÊS.

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  8. O texto mostra que a individualidade de cada um é um instrumento de trabalho muito importante na formação de um todo, portanto as indagações sobre as adversidades é um método interessantíssimo de trabalhar o currículo.
    Muito bom o texto.

    Carla Arbex

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  9. O Texto fala sobre diversidade e diferença. Assumir a diversidade é posicionar-se contra todas as formas de discriminação.
    É entender a educação como direito social e o respeito à diversidade como direito social e político.

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